setembro 3rd, 2009
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O dossiê O estilo em questão apresenta artigos que analisam, sob diferentes ângulos e perspectivas metodológicas, a questão do estilo e do estilismo industrial no campo da moda.
No artigo que abre o dossiê: O império do estilo, Cristiane Mesquita percorre a etimologia do termo estilo, observando as transformações e ampliações do sentido da palavra, ocorridas especialmente nos últimos 50 anos, e a importância da mídia nesse processo. A autora discute também a popularização da comercialização e consumo de estilos através de diferentes serviços ou recursos, como: o uso de marcas; a imitação do estilo de vida de celebridades; o consumo dos modos de usar; e o consumo de serviços que proporcionariam a montagem de um mosaico existencial, ou seja, de um “estilo próprio” com ajuda de profissionais, como: personal trainer, personal advicer, personal shopper, personal hair stylist e personal stylist.
Já, Maria Luísa Dios, em Ter ou não ter estilo: eis a questão, realiza um estudo etnográfico da utilização e da “conceituação” da palavra estilo pelas revistas de moda e dos populares manuais de etiqueta que focam a questão do vestuário e das aparências. Observando a fragilidade dos discursos propagados por tais veículos que buscam sobre a valorização do “estilo pessoal”, pois, dentro das opções do bem-vestir difundidas pelas revistas e manuais há também uma rígida hierarquia das aparências.
Em As estampas da memória, Alexandre Bergamo discute os conceitos de memória e história, e apresenta uma breve reflexão sobre as especificidades da memória da moda e sua importância para a história da moda recente. Tais discussões emergiram com base na observação de uma série de entrevistas realizadas pelo sociólogo, com importantes personagens que compõem a história (e a memória) da moda no Brasil, como Carlos Mauro (gerente de orientação de estilo da Rhodia, nos anos 70-80, e professor da Faculdade Santa Marcelina nos anos 1990) e, ainda, a jornalista Laís Pearson. Mais do que mapear a constituição do campo da moda no País, entre 1960-1990, o artigo, destaca como a estrutura hierárquica do campo da moda se desdobra na elaboração da memória de seus agentes, aqui exemplificada através das diferentes percepções a difusão e elaboração dos estilos propostos pelos Cadernos de Tendências.
Partindo de minuciosa pesquisa em fontes primárias, como: peças de roupas, acessórios, tecidos, cartões de visita, entre outros, o artigo A marca do anjo, de Priscila Andrade, reflete sobre a importância da trajetória pessoal da estilista Zuzu Angel para a constituição da identidade e do estilo da marca homônima.
Em Reflexões sobre o tradicional e o moderno na moda pernambucana, Meire Queiroz e Dario Brito analisam como e por que a incorporação de elementos da cultura regional e popular de Pernambuco no design da moda, por sua vez, destinado às classes média e alta, começou a tomar forma a partir de meados da década de 1990, observando como tal movimento opera importante reconfiguração de valores, pois tal camada da população passou a fazer uso de elementos visuais que antes renegava, ao mesmo tempo em que dá origem ao que hoje caracteriza a moda e o estilo pernambucano.
A seção de artigos traz textos que tratam de temas diversos, como corpo e juventude; ensino de moda e ecologia; moda e representações de gênero na literatura; e a representação do Brasil e da brasilidade pela moda brasileira contemporânea. Também integra a seção, o artigo Fantasias de carnaval, de Alceu Penna, que reúne alguns dos resultados da Iniciação Científica (CNPq/PIBIC), realizada por Bruna Pinto Martins, e premiada como a melhor pesquisa da área de Moda, Cultura e Arte, no Congresso de Iniciação Científica, do Centro Universitário Senac, em 2009.
O espaço Memória da Moda traz, nesta edição, a tradução do ensaio: “A evolução das roupas”, escrito pelo astrônomo e matemático inglês George H. Darwin (filho de Charles Darwin), em 1872.
A imagem da capa é uma criação de Rita Vidal, a quem agradeço a colaboração.
Gostaria de registrar um agradecimento especial à Maria Eduarda Araujo Guimarães, que muito colaborou para a concretização desta edição.
Nota da Editora: A Iara Revista de Moda, Cultura e Arte traz a partir desta edição novas normas para submissão de trabalhos.
Maria Claudia Bonadio
Editora