Interactive capabilities of devices for reading digital books |
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Gabriel Cardoso Gomes da Silva
Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro
Linha de Pesquisa: Tecnologias Aplicadas – Bacharelado em Design com linha de formação especifica em Design Digital
gacarsil@terra.com.br
Resumo. Este artigo busca apresentar as capacidades interativas dos dispositivos de leitura de livros digitais touchscreen em comparativo com os tablets. Para isso é apresentado um panorama da evolução dos livros digitais (e-books) e dos dispositivos de leitura destes livros (tablets e e-readers). Também será demonstrado como os recursos interativos foram se moldando aos leitores que buscavam cada vez mais uma aproximação com os livros tradicionais impressos.
Palavras-chave: e-readers, livros digitais, e-books, interação.
Abstract. This article seeks to present the interactive capabilities of reading digital books in comparison with touchscreen tablets devices. For an overview of this evolution of digital books (e-books) and reading devices these books (tablets and e-readers) is presented. It will also be shown how interactive resources were shaping up to readers who increasingly sought a rapprochement with the traditional printed books.
Key words: e-readers, digital books, e-books, interaction.
1. Introdução
Aparentemente, o início das primeiras publicações digitais não previam a proporção que os livros digitais iriam tomar do mercado editorial. Depois de um início não muito promissor, surgindo antes mesmo de tecnologias como o computador pessoal, que obtiveram um “retorno” muito mais rápido, os livros digitais levaram muito tempo para se consolidar. Dispositivos específicos de leitura só vieram surgir em meados de 1990, e a popularidade deles apenas com aparelhos como o Softbook e o Rocketbook, em 1998.
Muito do possível avanço dos livros digitais foi freado pela demora no desenvolvimento de tecnologias que suportassem este novo formato de leitura, seus benefícios sempre estiveram visíveis, e disponíveis desde as suas primeiras versões, porém o avanço real surgiu apenas a partir da criação de uma forma de tornar móvel a publicação digital, e de aproximar as interações com os dispositivos digitais dos livros físicos tradicionais.
As publicações que seguiram as criadas pelo Projeto Gutemberg (primeira iniciativa da construção de livros digitais), eram versões digitalizadas dos livros impressos o que restringia muito a capacidade de ação sobre o conteúdo, dado que o texto na verdade era uma imagem. Segundo Taísa Rodrigues Dantas (2011), mestre pela universidade de Coimbra,
Até há pouco tempo a compreensão da leitura em formato electrónico ainda era restrita, pensava-se apenas em versões digitalizadas de um livro já publicado em formato impresso, o que, por consequência, acabou por limitar o sentido do que seria efetivamente um e-book (DANTAS, 2011, PÁG. 23)
A compreensão que o caminho tomado para a construção dos livros através de imagens era mais eficiente, porém não mais eficaz levou a criação de outros formatos de arquivo para leitura. Com isso as formas de interação com o livro digital foram ampliadas, o livro voltou a sua origem quando existia uma transcrição do texto original para o arquivo digital e isso possibilitou uma maior interação sobre ele, um texto digitado pode ser alterado, quando ele é uma imagem sua possibilidade de alteração é eliminada.
Desde 2010, empresas como a Amazon, garantiam que as vendas de livros digitais eram maiores que a dos livros físicos, outros fatores também ajudam nestas estatísticas da logística de vendas de arquivos digitais, eles não necessitam de estoque, reduzem os funcionários envolvidos, e não necessita de transporte de mercadorias e isso deveria reduzir o custo do serviço para o cliente final. Outro ponto a se destacar é a facilidade de publicação de livros que já estão em domínio público, e a de criação de novos livros por produtores independentes, que não conseguiram espaço em nenhuma editora e resolveram por conta própria publicar o seu livro.
Nestes casos o escritor é também o editor e o seu próprio propagandista, onde ele pode comprar o direito de vender sua obra nas grandes livrarias digitais, ou apenas vende-la (ou disponibilizar para download), em um blog pessoal ou site. O que por um lado acaba por “democratizar” a chance de publicar os seus pensamentos, também gera um mercado paralelo de baixa qualidade de livros, não apenas pensando no conteúdo, mas na construção do arquivo digital que pode ser mal estruturada se feita por uma pessoa que ainda não possua domínio sobre os formatos utilizados no mercado.
Livros de baixa qualidade acabam por gerar uma desconfiança por parte dos novos leitores, experiências ruins acabam por levar a desistência da utilização desta forma de leitura que não deveria ser vista como uma substituição da leitura tradicional, mas como uma forma alternativa de acesso ao conteúdo, como é o caso de muitos dos livros aplicativos (ou appbooks) que são livros que apresentam conteúdos como áudio, vídeo, imagens em três dimensões, entre outras formas de interação que apenas são possíveis com a utilização de um aplicativo instalado no dispositivo. Quando se efetua um download e ele não funciona, estas experiências ruins influenciam futuras decisões de compra para um próximo livro.
Outra mudança que impulsionou o avanço dos dispositivos de leitura de livros digitais está nas características das atuais leituras, é apontado por Néstor García Canclini (2008), um antropólogo argentino, doutor em filosofia pela universidade de Paris e pela universidade de La Plata, com mais de dez livros publicados, que uma mudança do tipo de leitura das pessoas está evidente, não se lê livros robustos ou mesmo por completo, é possível ver em diversos lugares pessoas com fragmentos de livros, capítulos soltos para leitura. Os dispositivos digitais de leitura mesmo que não tenham como seu real objetivo favorecer a leitura fragmentada possibilita uma maior facilidade para transportar estes textos, o usuário/leitor pode ler diversos textos se a necessidade de volumes causados por folhas impressas soltas.
2. Os primeiros dispositivos de leitura e suas tecnologias
Os livros digitais hoje podem ser encontrados em diversos formatos, disponibilizados pelas mais diversas empresas. É notável que para quem quer produzir um best-seller nos dias atuais, o ambiente digital se torna cada vez menos desconhecido. Os grandes livros estão em sua grande maioria disponibilizados em lojas virtuais como a Amazon e a Apple Store, mas os livros digitais começaram bem antes da existência até mesmo dos computadores pessoais e das empresas que o comercializam, o conceito de se transferir, armazenar e ler publicações digitalmente é tão antigo quanto à própria internet.
A primeira publicação digital começou a ser produzida por um estudante universitário chamado Michael Stern Hart, em 1971, uma transcrição da declaração de independência dos Estados Unidos. Ele percebeu um grande potencial para a rede de computadores (o termo internet foi utilizado pela primeira vez no mesmo ano), a universidade de Illinois deu a ele a oportunidade de utilizar um “supercomputador” desde que ele encontrasse uma utilização para os 100.000.000 de dólares que o computador havia custado. Ele percebeu que o grande valor da rede de computadores não estava na capacidade de computar dados, mas na capacidade de armazenamento dados.
Uma hora e 47 minutos mais tarde, anunciou que a maior valência criada pelos computadores não seria a computação mas o armazenamento, a recuperação e a pesquisa daquilo que estava armazenado nas nossas bibliotecas (Project Gutemberg, 2006)
Segundo projeto Gutemberg, Hart criou o Project Gutemberg para disponibilizar gratuitamente textos pela rede de computador, ele acreditava que um dia todos teriam acesso a computadores e para ele algo que é colocado na internet pode ser reproduzido indefinidamente, ele então justificou os 100.000.000 de dólares a ideia de que a declaração de independência agora poderia pertencer ao acervo de 100.000.000 de bibliotecas.
Os leitores de livros digitais
Apesar da precocidade da criação das primeiras publicações digitais os dispositivos de leitura portáteis ainda levaram muito tempo se desenvolver, assim como o primeiro livro exclusivamente para o meio digital. Dispositivos parecidos com os que viriam a se tornar os e-readers surgiram apenas em meados dos anos 90, segundo Dantas (2011), os primeiros leitores de livros digitais, de real importância para o mercado, surgiram em 1998 com o financiamento do mercado editorial; foram criados então os primeiros leitores: o Rocket eBooks (figura 1) e o softbook Press (figura 2). Porém foi só dois anos depois que surgiu a primeira publicação de grande impacto no mercado, Riding the Bullet, de Stephen King, o primeiro best-seller a ser publicado exclusivamente para o meio eletrônico, chegando a 400.000 downloads em apenas 20 horas.
Figura 1 – rocketbook. Fonte: http://www.sfgate.com/business/article/An-Electrifying-Read-New-electronic-books-2989846.php#photo-2267880
Figura 2 – Softbook. Fonte: http://www.ideo.com/work/softbook-reader/
Esta recepção não foi suficiente para garantir o mercado para os livros digitais, existia ainda uma resistência a esta tecnologia, grande parte causada pelo possível desconforto destes primeiros dispositivos. Segundo Alexsandro Stumpf (2013), que é mestre em Design Gráfico pela universidade federal de Santa Catarina, foi professor universitário e atualmente é produtor gráfico de uma editora, a maneira que a materialidade de um livro é apresentado é um fator a ser considerado na concepção de seu projeto, os dispositivos de leitura apresentados até aquele momento possuíam características que dificultavam a leitura como a luz que era emitida pelas telas de LCD, e o grande peso dos dispositivos.
Em 2001, este cenário começou a mudar com a criação de um novo dispositivo pela Sony, o Librie-1000EP (figura 3), apesar de ter o peso reduzido e a capacidade de armazenamento melhorada em relação a seus antecessores o grande diferencial estava na tecnologia que foi criada para a tela: a tinta eletrônica, ou e-ink.
Figura 3 – Librie-1000EP. Fonte: http://www.shifteast.com/sony-librie-ebr-1000-ep-buy-online/
A tinta eletrônica
A tinta eletrônica surgiu como uma forma de aproximar os usuários de livros comuns dos livros digitais, seu principal objetivo é simular a superfície de um papel no dispositivo de leitura. Essa aproximação acontece, principalmente, devido aos dispositivos não emitirem luz, eles apenas refletem a luz do ambiente onde a pessoa esta (análogo ao papel impresso).
Sua tecnologia funciona com base no mesmo pigmento utilizado na área gráfica, os pigmentos branco e preto são encapsulados e recebem uma carga de elétrons (um fica positivo e outro negativo), de acordo com a necessidade a tela muda de polaridade o pigmento que está por cima decanta e o pigmento que está embaixo toma seu lugar, isso faz com que a tela mude de cor sem a utilização de luz emitida.
Esta tecnologia é controlada pela geração de campos magnéticos, isso faz com que os dispositivos que a contenham economizem muita bateria, chegando a quatro semanas sem a necessidade de recarga; outra revolução está da flexibilidade das telas, como o sistema não possui peças grandes rígidas, a tela pode ser dobrada e até mesmo comparada a um papel tradicional.
Em uma promoção de comemoração dos 75 anos, em 2008, a revista Esquere desenvolveu uma revista impressa em que a capa utilizava da tecnologia e-ink, foram distribuídos apenas 100 mil cópias da revista nos Estados Unidos (figura 4).
Figura 4 – Capa da revista Esquire. Destaque para a região com display e tecnologia e-ink. Fonte: http://www.printedelectronicsworld.com/articles/insight-into-e-ink-00001079.asp?sessionid=1
Mesmo com a criação das tecnologias de tinta eletrônica, e sua grande popularização, outras formas de leitura acabaram por surgir, a princípio como adaptação de dispositivos que não são exclusivamente dedicados a este serviço. Neste contexto, segundo Stumpf (2013), surgiram os tablets que assumiram o papel dos dispositivos de leitura de livros digitais e com uma maior quantidade de funções acabaram ganhando mais espaço dentro deste meio.
Os tablets
Os tablets são, segundo Dantas, dispositivos híbridos entre os smartphones e os computadores que tem como suas principais características o formato, parecido com os e-readers; o acesso à internet por 3G ou Wi-fi;e a tela,touchscreen (sensível ao toque). Os tablets conseguem, hoje, representam uma parte muito grande dos dispositivos utilizados para leitura, isso ocorre principalmente pela maior funcionalidade deles em relação aos e-readers. Os tablets disponíveis no mercado possuem a função de computadores portáteis, a leitura é apenas mais uma de suas possibilidades. Outra possibilidade que se abriu com os tablets é a utilização de livros aplicativos (os appbooks), estes não apenas mudaram a forma de leitura, mas também a forma como é entendido o texto e a sua linearidade, os livros se tornaram hipermídias interativas.
Com os livros aplicativos foi possível a inclusão de outras mídias no processo de leitura, livros começaram a adquirir as características de outros meios informacionais com a inclusão de vídeos, áudio, imagens em três dimensões, recursos de giroscópio (identifica a posição relativa do dispositivo) e acelerômetros (identificam a aceleração e movimentação do dispositivo), entre outras formas de interação do usuário com o livro. Uma das maiores representações dessa nova modalidade, como demonstrado por Mike Matias (2011), o co-fundador da empresa Push Pop Press, uma produtora especializada em publicações de livros digitais, em sua palestra no TED (Technology, Entertainment and Design), é o livro Our Choice (figura 5), escrito pelo ex-vice-presidente americano Al Gore. O livro ganhou um appbook onde além dos vídeos, imagens 3D, giroscópios e acelerômetro, também existem recursos de GPS, e expansões das próprias interações como uma imagem que leva para uma galeria de imagens.
Figura 5 – Imagem da tela do livro Our Choice. Fonte: http://digitaljournal.com/article/306404
Os tablets trouxeram mais que uma nova forma de leitura dos livros digitais, eles criaram uma nova forma de compreender e de pensar em livros digitais, os primeiros livros e textos pensados por Michael Stern eram cópias de textos que existiam enquanto físicos e que foram transcritos para o meio digital, apenas com o intuito de transmitir os conhecimentos ali presentes, com evolução das formas de digitalização de imagens os livros passaram a ser imagens digitalizadas dos livros impressos, hoje os livros são “superproduções”, produzidas exclusivamente para o meio digital. Apesar desta nova apresentação na forma de ler dos livros, muitas pessoas se sentiam incomodadas com ela, surgiu então uma separação de publico para as “diferentes formas de se ler”. Os livros que apresentavam maior capacidade de interação acabaram por adotar um mercado mais infantil com um grande volume de publicações de histórias para crianças. Pessoas que gostariam de ler um livro como ele se apresenta na forma impressa acabaram por adotar os e-readers ou utilizando aplicativos que “simulam” a forma de leitura do e-reader no tablet.
Segundo Chartier, um historiador francês formado pela Universidade de Sorbonne, (1999, Aput Stumpf, 2013),
o texto vive uma pluralidade de existências. A sua aplicação virtual é apenas uma dentre elas. Sendo assim, podemos encontrar o mesmo texto em vários suportes, mas sua leitura/recepção será diferente em cada um deles.
Essa forma de leitura mais próxima dos livros impressos tradicionais também possibilita muitas formas de interagir com os livros digitais, essas, porém assim como os seus dispositivos de leitura, adotaram características análogas as propostas pelos livros impressos para os livros digitais, como:
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Nos tablets uma animação de virada de página é apresentada ao usuário;
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Marcar a página que está se lendo manualmente (um triângulo no canto ou uma fita, para o digital);
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Pesquisa do significado de uma palavra;
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Pesquisa de uma palavra especifica dentro do texto;
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Marcar um trecho lido;
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Ou Adicionar uma nota para o trecho que foi marcado.