• terça-feira , 23 abril 2024

Reflexos Sociais da Atuação de Espaços Participativos: o Caso do Conselho da Cidadania de Belterra-PA

Social Reflections of the Action of Participatory Spaces: the Case of Citizenship Council from Belterra – PA

Gabriela Torquato Fernandez, Manuela Lourenço do Amaral Malheiros, Patrícia Thomé de Souza Prette, Graziela Azevedo
Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas – EAESP-FGV
Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas – GVCES
gabriela.tfz@gmail.com, manuela.lourencoam@gmail.com, patricia_3321@gmail.com, gradonario@gmail.com

Resumo. O presente artigo tem o objetivo de compreender “se e como o desenho institucional de espaços participativos reflete em seu poder de atuação na sociedade” a partir do estudo de caso sobre o Conselho da Cidadania de Belterra, no estado do Pará, buscando analisar a contribuição do formato institucional desse espaço participativo para o empoderamento da população. Para tanto, foi realizada breve revisão bibliográfica, além da coleta de dados primários e secundários. O Conselho da Cidadania pode ser avaliado como um importante espaço participativo da região, construído com a função de ser um espaço de deliberação, por meio do qual a população pode ter a oportunidade de participar da vida pública. O engajamento dos cidadãos surge como potencial instrumento para que o governo possa trabalhar de forma mais democrática, visando à melhoria da qualidade de vida, já que parte das questões públicas surge a partir da demanda da própria população.

Palavras-chave: Conselho da Cidadania, participação, empoderamento, deliberação, espaços participativos, desenho institucional, mini-público.

Abstract. This paper aims to understand “whether and how the institutional design of participatory spaces reflects in its power to act through society” from the case study of the Citizenship Council of Belterra, Pará State, investigating the contribution of the institutional format of this participatory space for the empowerment of the population. In this sense, a brief literature review was performed, in addition to collecting primary and secondary data. The Citizenship Council can be evaluated as an important public space in the region, built with the function of being a space of deliberation, whereby the population may have the opportunity to participate in public life. The citizen engagement emerges as a potential instrument for the government to work more democratically, aiming to improve the quality of life, as part of public affairs arises from the demands of the population.

Key words: Council of Citizenship, participation, empowerment, deliberation, participation spaces, institutional design, mini-public.

1. Introdução

Ao longo da história da região Norte do Brasil, aspectos como o crescimento demográfico, a estrutura fundiária e, principalmente, as próprias características e desafios da vida cotidiana das populações que vivem em locais de intensa relação com a floresta, muitas vezes isoladas ou com difícil acesso à infraestrutura de centros urbanos, estimularam o surgimento de conflitos envolvendo questões sociais relacionadas à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Isso fez com que estes passassem a se organizar em associações, comunidades e grupos que representassem os interesses de pessoas com pensamentos, condições ou sonhos em comum. A partir disso, floresce um posicionamento perante o governo e a sociedade e, com o desenvolvimento dessa estrutura de representação, criaram-se espaços de participação, em que um grupo é capaz de ser ouvido e lutar para o atendimento de suas necessidades, contribuindo, por fim, para o desenvolvimento local, empoderamento e participação social, conceitos discutidos ao longo do presente trabalho.

Localizada a oeste do estado do Pará, ao Norte do Brasil, Belterra conta, de acordo com o censo 2010, com 16.318 habitantes – com população estimada para 2013 de 16.808 -, com uma área municipal delimitada em 4.398km², a qual se distingue em área rural (90%) e área urbana (10%). A área rural divide-se em FLONA (Floresta Nacional do Tapajós – 70%), Área de Preservação Ambiental do Aramanai (APA – 10%) e uma última área rural, fora das áreas de preservação (trecho da BR – 163 – 10%). Ainda prevalece sobre a região o controle de terras por parte de poucos habitantes (30% da área sob o comando de 25 famílias), explorando, principalmente aspectos agropecuários. A principal atividade comercial da região é a agricultura, acompanhada da pecuária e práticas extrativistas (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007; IBGE, 2010).

Observa-se, a partir desta breve descrição, a peculiaridade apresentada pelo município de Belterra em relação às características amazônicas, inseparáveis de sua formação particularmente urbana e rural concomitantes. Em casos como este, muitas vezes a definição do que é um meio urbano em comparação com um meio majoritariamente rural pode não ser tão esclarecido, assim como Abramovay observa:

O acesso a infraestruturas e serviços básicos e um mínimo de adensamento são suficientes para que a população se torne “urbana”. Com isso, o meio rural corresponde aos remanescentes ainda não atingidos pelas cidades e sua emancipação social passa a ser vista — de maneira distorcida — como “urbanização do campo” (ABRAMOVAY, 2000, p. 2).

A região de Belterra demonstra características urbanas mais centralizadas em determinada área do município, margeando a avenida principal da cidade, sendo que, ao se afastar desta, predomina o aspecto rural, com estradas de terra, campos (desmatados, muitas vezes, para o cultivo da soja) e floresta amazônica. Muitas famílias vivem às margens do Rio Tapajós, compondo comunidades ribeirinhas que ainda estão sob a jurisdição municipal de Belterra, assim como aquelas que estabeleceram moradias às margens da BR-163. Observa-se então a influência de grandes distâncias que se formaram ao longo da história do município a partir de sua delimitação geográfica, caracterizando um território distinto:

Ao aliar grandes distâncias geográficas, significativas dificuldades de locomoção das pessoas e frágeis desempenhos de políticas públicas e iniciativas do governo local, muitas regiões amazônicas se caracterizam pelo que se denomina aqui por “território esfacelado”. (AZEVEDO, 2012, p. 40)

Como ferramenta para que o município de Belterra não se tornasse um “território esfacelado”, completamente influenciado pelas distâncias, falta de informação e acesso às pessoas que ali viviam e vivem, surge o Plano Diretor de 2007 e a consequente criação do Conselho da Cidadania, de forma que a população obtivesse uma alternativa para que suas opiniões e críticas pudessem ser ouvidas de alguma forma, caracterizando uma participação social potencialmente mais ativa.

A forma como a história regional impactou na organização da população local, bem como o cenário amazônico em que vivem, devem ser considerados no contexto deste trabalho, visto que desde então, as pessoas carregam em si a herança da cultura local e seus costumes – aspectos relevantes na organização social dos dias de hoje. Dessa forma, percebe-se que a cultura pode servir como uma vertente de análise muito importante para a compreensão das atitudes dos cidadãos e sua capacidade de organização e preocupação com a vida social como um todo, capazes de pensar, na maioria das vezes, não só em si mesmos, mas em sua família e nos grupos aos quais pertencem. Muitas de suas atitudes e desejos em relação ao âmbito social são consequências do cenário em que viveram e continuam a viver, sendo o desenvolvimento local um produto almejado que encontrou no plano diretor municipal de 2007 uma oportunidade de ser mais especificamente trabalhado.

Considerado por diversos autores como parte relevante e, por alguns autores, até como quase sinônimo da tão almejada sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável, o desenvolvimento local se baseia na valorização e melhoria das relações em nível local, tomando a perspectiva de que estes impactos positivos no micro são o caminho para alcançar grandes avanços em termos de desenvolvimento da sociedade como um todo, considerando aspectos sociais, econômicos e ambientais. E tal olhar para o local vem acompanhado de maior preocupação em oportunizar situações de participação, articulação e engajamento da sociedade para o empoderamento de grupos, como no caso do surgimento de Conselhos.

Estes espaços participativos podem ser construídos com a função de deliberação, por meio do qual as pessoas podem ter a oportunidade de participar da vida pública, defendendo os interesses do grupo que representam. O engajamento dos cidadãos surge, assim, como potencial instrumento para que o governo possa trabalhar de forma mais democrática, ressoando questões públicas que surgem a partir da demanda da própria população.

É a partir desse cenário que o presente artigo se fundamenta, com o objetivo geral de pesquisar, analisar e compreender como questão de pesquisa: “se e como o desenho institucional de espaços participativos reflete em seu poder de atuação na sociedade”. Para tanto, o trabalho aborda o caso do Conselho da Cidadania de Belterra, no estado do Pará, buscando analisar a contribuição do formato institucional desse espaço participativo para o empoderamento da população. Em 2007, Belterra foi premiada com o selo Cidade Cidadã, conferido pela Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados, em razão de ter sido um dos municípios com melhor experiência na elaboração participativa de seu Plano Diretor (MINISTÉRIO DA CIDADE, 2007), situação em que o Conselho da Cidadania exerceu papel central. Apesar de considerado importante tema de pesquisa, o julgamento sobre o real impacto e efetividade do Conselho extrapola os limites deste trabalho e não será, portanto, discutido.

O conteúdo do trabalho está estruturado em cinco seções além desta introdução. A próxima seção trata de uma breve revisão bibliográfica acerca do referencial teórico relacionado à pesquisa, que é seguida por uma seção que apresenta a metodologia utilizada no preparo, coleta e análise dos dados de pesquisa. A quarta seção relata aspectos relevantes sobre o objeto de estudo, o Conselho da Cidadania de Belterra, enquanto a quinta seção traz considerações sobre esse Conselho à luz da pergunta de pesquisa e das contribuições teóricas de Archon Fung acerca das escolhas de desenho institucional de mini-públicos. Por fim, a última seção relata as principais reflexões e considerações finais sobre a pesquisa.

2. Referencial teórico

Tanto no âmbito do escopo do tema da pesquisa em sustentabilidade a respeito da “participação social para o empoderamento”, como principalmente, da pergunta mais específica referente à constituição, atuação e contribuição do Conselho da Cidadania de Belterra para o empoderamento da população local, percebem-se três conceitos principais a serem compreendidos para este artigo: participação, empoderamento e desenvolvimento local. É acerca de tais temas que a breve revisão bibliográfica a seguir é apresentada.

No que tange à participação civil, consideram-se fundamental as contribuições de Pedro Roberto Jacobi, tido como referência ao se tratar de assuntos relacionados à sustentabilidade, ciências sociais e conciliação entre o poder público e populações de determinados locais. Em sua obra “Reflexões sobre as possibilidades de inovação na relação poder público-sociedade civil no Brasil”, Jacobi relaciona a ampliação da cidadania ativa e a atuação dos órgãos públicos brasileiros, analisando como poderia ser e como são, de fato, a relação entre esses dois atores políticos. Reflete-se sobre as práticas participativas, as quais podem funcionar como ferramentas para se atingir uma nova qualidade de cidadania, abrindo desde a gestão pública à participação da sociedade civil como forma de controlar e fiscalizar as ações do Estado, além de poder se revelar como força indutora de novas políticas sociais (JACOBI, 2001).

Observa-se, em sua obra, a expansão do associativismo civil a partir de duas origens principais: crises econômicas e a perplexidade causada pela institucionalização, sendo cada vez mais comum observar sua existência, principalmente, em municípios brasileiros mais restritos e de menor porte, onde uma organização populacional é, teoricamente, mais simples. Entretanto, atualmente, percebe-se um déficit de participação civil somado à volatilidade eleitoral, fazendo com que a organização de associações para a defesa de uma determinada causa seja, muitas vezes, desacreditada e desestimulada (JACOBI, 2001).

Segundo o autor, a população é quem cria as condições para influenciar a dinâmica de funcionamento de um órgão do Estado, garantindo, desta forma, a participação das diferenças e uma “estatização da sociedade” (ou “socialização do Estado”), visando, mesmo que indiretamente, uma atualização dos princípios ético-políticos da democracia. A cidadania deve ser um dos fatores pelo qual lutam as organizações, buscando construir as identidades dos sujeitos sociais, a constitucionalização dos contextos em que vivem, mostrando e atendendo às necessidades expressas por seus componentes, podendo até mesmo, redefinir gestões públicas. Deve haver ainda, uma motivação social concreta, baseada em uma institucionalização da relação Estado/Sociedade, capaz de questionar o status quo, fiscalizar, controlar e sugerir mudanças na administração pública (JACOBI, 2001).

Em suma, o autor demonstra que a participação social corresponde a um processo contínuo de democratização da vida municipal, isto é, de redefinição entre o público e o privado, por meio da redistribuição do poder em favor dos sujeitos sociais que geralmente não têm acesso, de modo a favorecer a equanimidade social. Portanto, a participação civil permite aumento da possibilidade de representar a pluralidade de interesses da sociedade e favorecimento da qualidade e equidade das políticas públicas (JACOBI, 2001).

De modo complementar ao conceito de participação civil, a antropologia moderna muito tem estudado a respeito do empoderamento, do termo em inglês empowerment. Para Maria Da Glória Gohn (2004), a mobilização da sociedade civil na esfera pública torna a comunidade “protagonista de sua própria história”. Segundo a autora, “o local gera capital social quando gera autoconfiança nos indivíduos de uma localidade, para que superem suas dificuldades. Gera, junto com a solidariedade, coesão social, forças emancipatórias, fontes para mudanças e transformação social” (GOHN, 2004, p.24).

Já Laverack e Wallerstein (2001), outros estudiosos do empoderamento, afirmam que o empowerment é mais bem concebido e avaliado como um processo contínuo, com os participantes passando do nível de fortalecimento pessoal ao desenvolvimento de pequenos grupos de apoio, de organizações comunitárias, parcerias e finalmente à ação política. Isto é, o empoderamento se caracteriza por um processo no qual as pessoas vão além da participação, resultando em influências nas decisões públicas por meio de deliberações, como apresentado por Archon Fung (LAVERACK; WALLERSTEIN, 2001; FUNG, 2003).

Assim, para o empoderamento é preciso haver o exercício da deliberação através de associações que, segundo Francisco Oliveira, têm como função negociar com o governo. As associações criam dessa forma espaços participativos, como um “sistema paralelo, parapolítico, que aglutina mais que os partidos políticos e a partir do qual se estrutura ação política” (OLIVEIRA, 1990, p. 55).

Estes “novos espaços participativos” (CORNWALL; COELHO, 2004), segundo Vera Schattan P. Coelho e Andrea Cornwall (2007, p.1):

Também são, em muitos aspectos, espaços intermediários, condutores para negociação, informação e intercâmbio. Podem ser providos por ou para o Estado, apoiado em configurações por meio de garantias legais ou constitucionais e considerado por atores estatais como o espaço em que os cidadãos e seus representantes são convidados a participar. No entanto, eles também podem ser vistos como espaços conquistados por demandas da sociedade civil para inclusão. Alguns são fugazes, eventos únicos de consulta; outros são instituições regulamentadas com presença mais duradoura na paisagem da governança.

Este tipo de espaço público para participação no Estado é observado em Belterra, sendo reconhecido ainda como um caso de sucesso justamente pelas características de sua institucionalização e mobilização da população. Por meio de maior engajamento de atores de destaque na sociedade foi possível evoluir ainda mais, tendo estes a motivação de passar para outras pessoas o significado de se participar de espaços como o Conselho da Cidadania para que seus próprios interesses fossem levados em consideração pelos órgãos municipais de administração.

Os Conselhos são uma das modalidades para o exercício da cidadania. Cumpre destacar, entretanto, que a participação da sociedade civil não pode, nunca, se resumir à participação nos espaços dos conselhos ou outros criados na esfera pública. (…) ela deverá advir de estruturas participativas organizadas autonomamente na sociedade civil. O chamado trabalho de base é fundamental para alimentar e fortalecer a representação coletiva nos colegiados da esfera pública. Essa esfera pública não pode ser vista como um degrau superior, que surgiu para eliminar ou superar formas e níveis de mobilização e organização que existiram na sociedade brasileira nos anos 1970/80, pois esta é uma visão etapista, linear e evolutiva (GOHN, 2004).

A efetividade e as especificidades da participação civil, entretanto, segundo o autor da Universidade de Harvard, Archon Fung, depende de uma série de elementos que irão caracterizar o conceito denominado de desenho institucional. De acordo com Kiser e Ostrom, o desenho institucional é definido por um conjunto de “regras utilizadas para determinar quem e o que está incluído em situações de decisão, como se estrutura a informação, quais as ações que podem ser tomadas e em que sequência, e como as ações individuais serão agregadas e transformadas em decisões coletivas” (ap. LEVI, p.80).

Em seu artigo “Recipes for Public Spheres: Eight Insitucional Design Choices and Their Consequences”, Fung discorre sobre as oito principais escolhas do desenho institucional de um espaço participativo, bem como suas consequências e impactos para os resultados obtidos em diferentes âmbitos. O artigo sistematiza e simplifica a análise acerca do conceito de desenho institucional, de maneira complementar às análises e abordagem desenvolvidas pela autora Lígia Helena Hahn Luchmann em seu texto “O desenho institucional dos Conselhos Gestores” (FUNG, 2003; LÜCHMANN, 2008).

Pode-se considerar ambos os posicionamentos como referência em razão de suas peculiaridades, o primeiro devido à sistematização da análise de espaços participativos em um trabalho, o segundo devido à consideração de Conselhos Gestores e da profundidade do desenvolvimento dos aspectos, apresentados em linguagem clara e objetiva (FUNG, 2003; LÜCHMANN, 2008).

Lígia Lüchmann discorre sobre os fatores considerados determinantes para a implementação (virtuosa) de experiências de democracia deliberativa, visto que a participação da sociedade civil por si só não garante a reversão de uma lógica de poder em direção ao aprofundamento da democracia (LÜCHMANN, 2008).

A autora destaca a importância da influência de fatores como:

os aspectos históricos; a qualificação dos atores participantes; o acesso à informação; a motivação dos atores à participação; as características dos procedimentos de operacionalização e princípios do espaço participativo (participação e tomada de decisão); a heterogeneidade e grau de representatividade dos atores; a organização da sociedade civil; os recursos disponíveis; o comprometimento político; as ações de implementação, acompanhamento e sustentação de práticas de gestão democrática; a garantia do pluralismo, igualdade e liberdade; a capacidade das instituições de empoderar os atores sociais; a importância da existência de espaços e mecanismos participativos diversos; as decisões sobre localidade, tempo e frequência do processo deliberativo; os impactos da legalidade e obrigatoriedade de dados espaços participativos; entre outros (LÜCHMANN, 2008).

Destaca-se ainda o trabalho de Velásquez (1999), o qual comenta a respeito do tripé de elementos centrais ao controle social de gestão pública: estrutura de oportunidade política (opções oferecidas por um sistema político); constituição de identidades sociais (grau de articulação, heterogeneidade, rede de relações sociais e tradição associativa); e motivação.

Com relação à estruturação da sociedade civil, Archon Fung apresenta a definição de mini-público, o qual segmenta milhares em grupos menores, conscientemente organizados em deliberações públicas, e os quais, segundo o autor, representam o esforço mais promissor de engajamento civil e deliberação pública, sendo estes heterogêneos, múltiplos e capazes de deliberar acerca dos mais diversos temas (FUNG, 2003).

Como anteriormente citado, Fung (2003) sistematiza as escolhas a respeito do desenho institucional em oito principais: tipos de minipúblicos; recrutamento e seleção de participantes; temas e escopos das deliberações; estilos de deliberações; interação e recorrência; objetivos; empowerment; e monitoramento.

Por meio do referencial acima citado é possível melhor compreender a correlação entre a participação e o empoderamento, e também, alguns de seus principais impactos para os cidadãos envolvidos. No âmbito coletivo é possível analisar as consequências desse aumento de participação, motivação, ação e empoderamento, isto é, do impacto dos indivíduos de certa região na tomada de decisão dos órgãos e instituições públicas, especialmente no que se refere à política pública. Dessa forma, por melhor compreender suas necessidades e impactos das ações discutidas, as consequências da participação e empoderamento abrangem também o desenvolvimento local.

Este desenvolvimento, entretanto, não possui mais a abordagem tecnicista, atrelada exclusivamente ao desenvolvimento econômico e descomprometido com os impactos nos atores da localidade. Segundo Oliveira (2002), este desenvolvimento se dá por meio da emergência da necessidade de “capacidade efetiva de participação da cidadania”, a qual resgata a ágora grega,

posto que a forma democrática representativa é insuficiente para dar conta da profunda separação entre governantes e governados na escala moderna (…) O desenvolvimento local poderia criar um lócus interativo de cidadãos, recuperando a iniciativa e a autonomia na gestão do bem comum (OLIVEIRA, 2002, p.14).

De forma complementar, Martins (2002) afirma que o diferencial do desenvolvimento local não está “em seus objetivos (bem-estar, qualidade de vida, endogenia, sinergias etc.), mas na postura que atribui e assegura à comunidade o papel de agente e não apenas de beneficiária do desenvolvimento” Martins (2002, p.2).

Observa-se que a gestão do bem comum pode ser realizada a partir de uma maior participação da população frente a aspectos público municipais, em que há uma maior preocupação em se estabelecer decisões que influenciem no desenvolvimento local da região, de forma que essas acompanhem as necessidades sociais, promovendo resultados significativos, além de serem monitoradas de forma que permitam a perpetuação da satisfação dos cidadãos que ali vivem.

Partindo dos conceitos supracitados, procurou-se delinear os instrumentos de pesquisa e método para análise dos dados, apresentados na seção a seguir.

3. Metodologia

Investigar é uma forma de relatar o mundo e a pesquisa social é tanto um produto social para relatar quanto um produtor de relatos; uma maneira de contar – e produzir – o mundo. A pesquisa nasce da curiosidade e da experiência tomados como processos sociais e intersubjetivos de fazer uma experiência ou refletir sobre uma experiência (SPINK, 2003, p. 26).

Como metodologia para este trabalho, procurou-se realizar a pesquisa em campo de maneira a possibilitar certo grau de convivência com a realidade local, buscando entender da melhor forma possível o modo de vida cultivado por seus habitantes, bem como seus costumes, crenças, hábitos e comportamento. Reconheceu-se a importância do pesquisador aprender a se atentar à própria cotidianidade, reconhecendo que é nesta que são projetados e negociados os sentidos; e aprender a fazer isso como parte ordinária do próprio cotidiano, não como um pesquisador participante e muito menos como um observador distante. Buscou-se, em outras palavras, conhecer o outro e realizar trocas diversas, para se ter uma visão mais objetiva, conhecer seus pontos de vista e de onde falam; ou seja, uma subjetividade construída intersubjetivamente (SPINK, 2008, p. 71-72).

Dentro deste “tumulto conflituoso de argumentos parciais, de artefatos e materialidade”, preza-se pela utilização de instrumentos variados de pesquisa, a fim de “nos localizar psicossocialmente e territorialmente mais perto das partes e lugares mais densos das múltiplas interseções e interfaces críticas do campo-tema onde as práticas discursivas se confrontam” (SPINK, 2003, p. 36).

Observou-se que o presente estudo poderia se desenvolver sob uma ótica qualitativa, estruturado como um estudo de caso, método que procurará enfrentar uma situação tecnicamente diferenciada em que existirão muito mais variáveis, de acordo com Yin (2010).

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, importantes como uma espécie de guia para o diálogo com esses atores locais, no qual há um roteiro como base a ser seguido, contendo perguntas-chave (anexo 1). Spink (2008, p.72) afirma que, ao contrário dos métodos planejados em que se delineia a priori um roteiro de entrevista com perguntas sobre um tema previamente acordado e operacionalmente definido, um pesquisador, no cotidiano, frequentemente se utiliza de conversas espontâneas em encontros situados.

Pelo fato de a pesquisa envolver diversos grupos de atores, foi necessário adequar o roteiro de pesquisa às particularidades de cada um deles, realizando perguntas mais específicas e, assim, maximizando a qualidade e aproveitamento dos dados obtidos. Dessa forma, elaborou-se um roteiro voltado às figuras ligadas ao próprio Conselho da Cidadania e aos indivíduos relacionados à Prefeitura Municipal de Belterra e outro para ser aplicado às lideranças comunitárias ou outros órgãos e pessoas indiretamente ligados ao Conselho.

Procurou-se estabelecer uma conversa informal, construindo um ambiente agradável, no qual fosse transmitida confiança. Inicialmente eram explicadas as intenções e objetivos do trabalho, bem como o tema da pesquisa para que todos estivessem alinhados quanto às suas expectativas. Foram consideradas também determinadas observações feitas pelos entrevistados, mesmo que estas não estivessem diretamente relacionadas às perguntas ou à própria pesquisa permitindo também que estes fizessem perguntas aos membros do grupo, de maneira coletiva ou individual.

Vale ressaltar que foram realizadas reuniões a fim de analisar a qualidade das informações obtidas, percepções gerais sobre as entrevistas, pesquisa e vivência, possíveis melhorias em relação ao roteiro de entrevistas, ao modo como as entrevistas eram conduzidas, e até ao rumo da pesquisa como um todo. Dessa forma, com a contínua análise do trabalho realizado foi possível aperfeiçoar cada vez mais a pesquisa que estava sendo realizada, bem como dar espaço aos aprendizados e reflexões sobre a experiência.

Nos casos em que foi preciso se locomover até uma comunidade específica que, por vezes só era possível o acesso por meio de barco ou caminhonete, era necessária a articulação de um esquema de transporte, normalmente conduzido com o apoio das lideranças comunitárias. Estes foram peças chaves, não só no mapeamento dos atores principais para a pesquisa, mas também ao informá-los antecipadamente das intenções do trabalho. Esse detalhe se mostrou muito importante como um ato de “pedir licença” por entrar naquela comunidade e, muitas vezes, na própria casa das pessoas. Esta foi uma parte integrante do compromisso ético das pesquisadoras na realização do projeto de pesquisa, durante as entrevistas e mais ainda, em todo o período no campo.

Para enriquecer a pesquisa e torná-la mais realista quanto ao panorama social do município de Belterra, procurou-se captar opiniões diferentes sobre o Conselho da Cidadania, com a inclusão na agenda de lideranças comunitárias, moradores de todos os distritos do município e representantes dos diversos grupos ali presentes, além de membros do Conselho da Cidadania e do governo municipal, contemplando um total de 37 entrevistas.

Além das entrevistas semiestruturadas, outro instrumento de pesquisa utilizado foi a observação direta, com a participação em quatro reuniões comunitárias, a partir de uma abordagem que considera o conceito e importância de cotidiano e de micro lugares.

Fez-se importante também a coleta de dados secundários a partir, principalmente, da análise de documentos, tais como: revistas e jornais locais; ata de reuniões do Conselho da Cidadania; documentos de divulgação e comunicação das decisões deste conselho; blog do Conselho da Cidadania; e qualquer peça de comunicação em geral que se demonstrou potencialmente hábil a oferecer um conhecimento diversificado sobre o objeto de pesquisa (YIN, 2010, p. 128-132).

A partir da coleta de informações por meio dos instrumentos acima explicitados, o método de análise de dados utilizado para lidar com a pergunta de pesquisa foi a análise de conteúdo, forma clássica que permite analisar qualquer tipo de dados de material textual, inclusive entrevistas estruturadas e semiestruturadas (FLICK, 2009). Ao se coletar os dados, foi preciso classificá-los de forma a categorizar os tipos de respostas para que pudessem ser considerados adequadamente na compreensão do caso à luz da pergunta de pesquisa colocada (BELL, 2008).

Ao declarar os pesquisadores parte de um campo-tema, foi demonstrada a convicção ética e política de que, de maneira análoga a psicólogos sociais, fosse possível contribuir e estar disposto a discutir a relevância de sua contribuição com qualquer indivíduo e em quaisquer circunstâncias.

Temos algo a contribuir porque temos um mínimo de disciplinariedade que inclui a vontade de discutir entre nós a validade daquilo que fazemos – como também fazem entre si os especialistas em transplantes de coração, os cozinheiros, os jardineiros, os pedreiros e os presidentes. Somos somente uma parte de uma ecologia de saberes, cada uma das quais partindo de um ponto distinto e pensando que tem algo a contribuir (SPINK, 2008, p. 76).

Assim, foi por meio da metodologia descrita, bem como da breve revisão bibliográfica apresentada, que se conduziu a análise do caso do Conselho da Cidadania de Belterra, buscando contemplar os objetivos da pesquisa.

4. O Caso do Conselho da Cidadania de Belterra

De acordo com a forma como essa região do Brasil sofreu seu povoamento e exploração, bem como a partir de informações obtidas nas entrevistas realizadas com atores locais, percebe-se a emergência de um sentimento de união social frente às dificuldades enfrentadas. Não por acaso é comum encontrar “comunidades” e grupos organizados em várias partes do município, muitas vezes isolados e muito distantes do centro urbano. Em vista da grande dimensão territorial do município, foram estabelecidas grandes áreas de intervalo entre as concentrações de pessoas, tanto entre o urbano e o ambiente rural de floresta, quando entre as populações residentes neste meio rural amazônico, formando comunidades. Em geral, nestes locais vivem pequenos aglomerados de pessoas, que se organizam coletivamente para efetivar o funcionamento de atividades básicas necessárias à sua sobrevivência, como por exemplo, a obtenção de comida, água e saneamento básico.

Para além de um contexto geográfico e ambiental específico, com fortes traços da Amazônia, e do contexto de desenvolvimento econômico e social muito particular, é possível apontar especificidades que marcam os valores, a cultura e o dia a dia da população que vive na região.

Com área superior à do município de São Paulo, Belterra possui 4.398km², sendo que apenas 10% deste território consistem em área urbana e zona de expansão urbana, (IBGE, 2010). Formalmente essas regiões são divididas em sete distritos, incluindo a sede que corresponde à área considerada urbana, como mostra a Figura 1.

Figura 1: Mapa dos distritos e comunidades do município de Belterra-PA.


Fonte: FASE, 2006.

O Conselho da Cidadania de Belterra, associação criada em 2007, fundado como um órgão consultivo e deliberativo durante o processo de elaboração do Plano Diretor Participativo trata especialmente de demandas e prioridades para gestão do orçamento municipal, visando promover debates entre a população e gestores públicos, sobre diversas temáticas, as quais beneficiem todos os cidadãos. Há discussões, por exemplo, sobre a gestão e planejamento do município, incluindo questões relacionadas à educação, saúde, infraestrutura, criação de das políticas públicas, como política urbana, territorial e habitacional, visando o desenvolvimento local, econômico e social.

É composto por integrantes da sociedade civil e do poder público, representando 70% e 30% do total, respectivamente, com mandatos de dois anos. É atualmente composto por 27 integrantes, dos quais 10 provêm do poder público municipal. Dentre estes, há a participação, conforme observado por meio da participação em algumas reuniões, de líderes comunitários e representantes de diversas associações, cada qual defendendo os interesses do grupo que fazem parte. Apresentam-se líderes de comunidades localizadas tanto às margens da BR-163, quanto do Rio Tapajós, além de representantes de associações como a FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Federação da FLONA Tapajós, entre outros.

No primeiro Congresso da Cidadania, realizado em 2007, ocasião na qual diversos segmentos da sociedade foram convidados a participar e contribuir, foi realizada uma votação a fim de selecionar um grupo de segmentos e organizações que representassem a sociedade civil e governo e, desta forma, caracterizassem o Conselho Executivo. Este é responsável por realizar as principais discussões, além de tomar as decisões que impactem toda a estrutura do Conselho da Cidadania em si, e que são posteriormente levadas ao Conselho Distrital, para validação, constituindo uma estrutura que visa facilitar e otimizar a tomada de decisão. Este Congresso acontece a cada 2 anos, momento no qual nova eleição e reflexão e revisão dos resultados e do planejamento.

As deliberações do Conselho da Cidadania acontecem, em geral, a cada 15 dias, durante as reuniões do Conselho Executivo, a fim de monitorar as decisões tomadas e fazer devida revisão e ajustes que se façam necessários para alcance dos objetivos visados.

A fim de capilarizar a participação e representação da população e de diferentes distritos e regiões do município, foi criado o Conselho Distrital no início de 2012, como parte da estratégia do Conselho da Cidadania. Para selecionar os participantes deste conselho, cada comunidade, através de uma assembleia convocada pela associação comunitária, elegeu delegados de maneira proporcional aos participantes da reunião, tendo a comunidade direito a um novo delegado a cada dez presentes. Estes delegados representam suas comunidades e, agrupados com os diversos representantes do distrito ao qual pertencem, têm como principais atribuições discutir os interesses mútuos do distrito e representá-lo frente ao Conselho Distrital, que posteriormente leva tais demandas ao Conselho da Cidadania.

Nas reuniões quinzenais promovidas pelo Conselho Executivo, são realizadas discussões mais rotineiras e cotidianas, enquanto que nas Assembleias dos Conselhos Distritais são tratados assuntos mais estratégicos e relevantes frente a um maior número de participantes.

Vale ressaltar que as assembleias e reuniões são abertas a toda a população, restringindo apenas o direito ao voto e dando preferência de fala aos delegados e representantes oficiais do Conselho. Entretanto, a participação do público civil é amplamente estimulada, como por meio da expressão de suas opiniões e críticas. De acordo com seus principais dirigentes, os participantes da sessão de discussão e/ou apresentação de propostas, não só podem como devem, se manifestar caso tenham alguma opinião sobre o assunto em questão, levantando a mão e demonstrando a vontade de contribuir com seu pensamento.

De acordo com o Chefe de Gabinete da prefeitura, com relação ao processo de discussão por parte dos distritos, cada um elege prioridades, que são analisadas e orçadas no âmbito do Conselho da Cidadania. Para verificar quantas e quais prioridades poderão ser devidamente atendidas. Este processo conta, também, com votações abertas com participação democrática. As decisões são tomadas pelos delegados eleitos por distrito durante o Congresso da Cidadania (realizado a cada 2 anos pelo Conselho da Cidadania). Ao final desse período é realizado um balanço para se constatar se a medida foi ou não implementada. De acordo com atores locais, o resultado das discussões decorrentes do Congresso também proporciona elementos para o planejamento da atuação das secretarias municipais e de Câmara dos Vereadores.

5. O caso do Conselho da Cidadania de Belterra e a literatura

Para o embasamento da pesquisa, foram levadas em consideração as obras literárias apresentadas no referencial teórico, que tratam de assuntos relacionados ao tema em questão, sendo o texto “Recipes for Public Spheres: Eight Institutional Design Choices and their Consequences”, de Archon Fung, o principal pilar de análise. Em seus escritos, Fung discorre sobre oito pontos principais que influenciam o desenho institucional presente nas sociedades contemporâneas e em sua estrutura de organização. Nesta seção, o Conselho da Cidadania é analisado à luz dos oito pontos citados por Fung, com o intuito de analisar, de maneira mais sistêmica, o desenho institucional do Conselho da Cidadania de Belterra (FUNG, 2003).

Visão e tipo de minipúblico

De acordo com Fung, minipúblicos funcionam como associações de influência social e trabalham na reforma do pensamento ao invés de escolher formas revolucionárias de solucionar problemas sociais. Em Belterra houve, após a elaboração do Plano Diretor municipal (realizado em 2007), a implementação do Conselho da Cidadania, um espaço voltado à participação popular, com vistas a engajar o senso crítico da sociedade e estimular a participação civil na vida pública do município, como maneira de “reformar” o pensamento social sobre os aspectos públicos que estão no entorno de seus habitantes. Com isso, a cidade ganhou o prêmio de Cidade Cidadã, a partir do desenvolvimento do Conselho da Cidadania, em que se previa a criação de condições coerentes para que os cidadãos formassem e articulassem opiniões a partir de deliberações e conversações, funcionando como um conselho consultivo e deliberativo participativo, que se pode relacionar ao conceito de minipúblico apresentado por Fung.

Percebe-se que, apesar da participação ativa de alguns cidadãos relevantes no município e do conhecimento desta entidade por grande parcela dos moradores da região local, boa parte da população ainda desconhece a existência do Conselho da Cidadania assim como muitos, mesmo sabendo de sua presença, não se sentem beneficiados por qualquer tipo de atividade desenvolvida pelo espaço. Houve relatos em que cidadãos disseram que já tinham “ouvido falar” na instituição, entretanto, nunca haviam se defrontado com algo realizado por este, enquanto outros entrevistados apontaram que, no início de sua atividade, o Conselho se mostrava mais ativo, porém, gradualmente, foi diminuindo sua presença no cotidiano local.

Quem? Recrutamento e seleção dos participantes

A estruturação do Conselho da Cidadania em Conselho Distrital possibilita afirmar que o Conselho segue muito próximo aos pontos que Fung (2003) ressalta em seu texto, aqui usado como modelo. De maneira complementar, primeiramente, todos podem participar das Assembleias e reuniões realizadas, respeitando o princípio da equidade. Fung (2003), entretanto, levanta um contraponto deste modelo, ao qual se refere como voluntarismo, em que, apesar do participante ser movido pela motivação pessoal em participar, pode-se privilegiar atores com melhores condições socioeconômicas, como o acesso a meios de comunicação e de transporte, como visto no caso de Belterra.

A solução para tal questão, proposta por Fung, é também observada no modelo do Conselho da Cidadania, em que, por meio de reuniões nas diferentes comunidades e localidades do município, são escolhidos representantes e debatidos temas relevantes para cada localidade, dentro do contexto do Conselho Distrital, de modo a democratizar a participação dos diferentes segmentos da sociedade.

Além disso, impactando em outra temática levantada por Fung, quanto ao problema das disparidades no acesso a recursos e ao impacto deste nos resultados do Conselho, faz-se importante ressaltar que a Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Planejamento, se responsabiliza pelos recursos financeiros necessários para a alimentação e locomoção dos participantes da reunião – elemento que poderia ser impedir significativamente para a viabilidade da participação de diversas lideranças, visto que há limitações com relação aos locais mais distantes e aos altos custos de locomoção. Por exemplo, há locais em que apenas o transporte hidroviário é possível, pela inexistência ou precariedade das estradas. Entretanto, às vezes não há embarcações do porte necessário para as viagens requeridas, ou não há dinheiro para arcar com os custos do combustível. Sem contar, é claro, com o tempo investido, que significa menor período de trabalho para geração de renda.

O quê? Assunto e escopo das deliberações

A partir da formação de minipúblicos, uma sequencia ou um grupo de temas é cuidadosamente selecionado para ser discutido dentro de suas deliberações. Com o Conselho da Cidadania não é diferente. Visto que a instituição compõe um local em que se procura a participação populacional sobre questões públicas, são realizadas reuniões com indivíduos do próprio Conselho e cidadãos representativos como forma de se discutir temáticas municipais que envolvem a vida social como um todo. De acordo com o chefe de gabinete da cidade de Belterra, são discutidos no Conselho da Cidadania assuntos relacionados à infraestrutura municipal tais como a pavimentação de vias, a estrutura para a existência de água encanada, o fornecimento de máquinas para a realização de obras em geral, a construção de escolas, postos médicos e hospitais, entre outros, ou seja, temáticas que, de uma forma abrangente, envolvem política, segurança civil, educação e saúde.

Já no Conselho Distrital, órgão de menor porte, elaborado pelas populações presentes nos distritos que compõem todo o município de Belterra, são discutidas questões de âmbito mais local, referentes também à saúde, segurança e educação de seus habitantes. Tal Conselho foi formado a partir da demanda originada pelos belterrenses, principalmente devido à grande proporção territorial e à crítica em relação à falta de infraestrutura do município, alguns dos principais motivos identificados pelos atores locais que impediam a ampla participação social no Conselho da Cidadania e dificultavam ao poder público municipal realizar uma administração mais coerente com as necessidades da população local.

Como? Modo de deliberação

Nas reuniões do Conselho da Cidadania a participação do público civil, e não apenas dos representantes, é amplamente estimulada, tanto para expressar suas opiniões, como críticas. Entretanto, em algumas das entrevistas realizadas com lideranças da sociedade civil, alguns afirmaram que nas reuniões somente os dirigentes poderiam falar, estando alguns indivíduos ali presentes apenas para ouvir, em relevante ponto de oposição às características fundantes do Conselho.

Em Assembleia realizada pelo Conselho da Cidadania em julho de 2012, acompanhada nos termos da elaboração deste trabalho, houve a participação de dirigentes do Conselho bem como de líderes comunitários e representantes de associações locais. Observou-se que, nesta assembleia, qualquer indivíduo, fosse ele do Conselho da Cidadania ou da sociedade civil, poderia expressar livremente sua opinião em qualquer momento da reunião, falando de seu próprio assento ou indo até a frente de todos os expectadores. Vários participantes demonstraram vontade de participação e expressão crítica das atitudes tanto do governo quanto do próprio Conselho, defendendo os interesses sociais municipais e também de suas respectivas associações. Consequentemente, pôde-se constatar a liberdade de expressão de ideias fornecida àqueles que demonstram engajamento pelas questões públicas municipais.

Nas tomadas de decisões, segundo os dirigentes do Conselho, são realizadas votações que contam com a participação de conselheiros e civis, de forma a se estabelecer uma determinação à base do “bem comum”, uma das formas de decisão propostas por Fung.

Quando? Recorrência

As deliberações promovidas pelo Conselho da Cidadania ocorrem, em geral, a cada 15 dias, durante as reuniões do Conselho Executivo, como forma de realizar sua manutenção e o monitoramento das decisões. É realizada, duas vezes ao ano, a Assembleia Geral, em que participam não só membros do Conselho, mas também líderes comunitários, representantes de determinadas associações municipais e representantes de instituições de maior porte que apoiam e influenciam as decisões locais, como por exemplo, a FASE e a Federação da FLONA Tapajós. As Assembleias são reuniões abertas ao público, representando a participação democrática também citada por Fung. Especialmente no caso das assembleias, estas não são suficientes para atender a todas as demandas do munícipio. Entretanto, o aumento de sua recorrência é dificultado pela falta de recursos para viabilizar a locomoção até o local da reunião, pelos custos e pela distância, em muitos casos. Além disso, por serem voluntários, a participação acarreta na perda de dias de trabalho, o que compromete ainda mais o seu engajamento de maneira mais recorrente.

Por quê? Interesses em jogo (stakes)

Uma discussão do minipúblico se torna muito mais interessante a partir do momento em que seus integrantes se mostram interessados pelo assunto a ser tratado, além de possuírem interesse naquilo em que vai se basear a deliberação. Archon Fung considera atitudes como esta como “hot deliberation”, ou seja, uma deliberação em que se percebe grande motivação e vontade das pessoas em participar e discutir. No Conselho da Cidadania se procura despertar essa motivação tanto em seus membros quanto nos potenciais participantes de suas reuniões e população como um todo, com vistas a florescer na sociedade local o senso crítico político e o poder de reivindicação por seus direitos. De acordo com o chefe de Gabinete, tem-se o desejo de se estimular o senso político da sociedade a partir da própria composição do Executivo do Conselho da Cidadania, em 30% por membros do governo e 70% da sociedade civil

Em geral, as pessoas que participam do Conselho, mais especificamente no caso dos representantes da sociedade civil, possuem uma motivação pessoal muito grande, apesar de muitas vezes possuírem pouco ou nenhum conhecimento mais específico e teórico, ou até mesmo, não saberem ler e escrever. Isso porque acreditam que o Conselho seja um meio efetivo de serem ouvidos e poderem participar das decisões políticas. Dessa forma, acreditam e lutam pela efetivação dos anseios dos grupos que representam, a defesa de ações e medidas que promovam melhorias a seus problemas e o atendimento de necessidades básicas, a exemplo de saúde e educação.

Empowerment

Um dos objetivos pelo qual o Conselho da Cidadania foi criado é o de trazer a população para as discussões das ações públicas, e também promover a organização desta de maneira a atender as suas demandas e estabelecer prioridades para o orçamento público do município. Neste tópico, Fung (2003) afirma que um minipúblico é empoderado apenas se os resultados das deliberações, ou seja, o que é decidido no Conselho é capaz de influenciar as decisões públicas.

De fato, muitas das decisões do governo estão baseadas nas discussões que acontecem nesse espaço. O próprio orçamento do governo municipal, que segue o modelo de Planejamento e Orçamento Participativo é coordenado pelo Conselho, refletindo o poder de influência que este tem nas decisões públicas. Muitas destas são direcionadas por meio dos resultados das discussões feitas dentro do Conselho, com a participação da sociedade civil. Entretanto, por outro lado, muitas dessas ações discutidas e decididas não são implementadas pelo governo, e nem ao menos é fornecido à população qualquer justificativa quanto à situação do encaminhamento das medidas que deveriam ser tomadas.

Monitoramento

Segundo Fung (2003), haver participantes que avaliem as discussões a respeito da qualidade do que esta sendo realizado durante o processo de implementação, agrega importantes benefícios. O primeiro benefício se relaciona com o aprendizado público, no qual as pessoas adquirem experiência e aprendem que tipo de decisão possui maior probabilidade de funcionar, dadas certas condições, numa espécie de escola para cidadania. O outro benefício se refere à possibilidade de accountability do governo, estimulando o aperfeiçoamento de políticas públicas.

Na experiência de Belterra, o que houve com a criação do Plano Diretor e do Conselho da Cidadania foi uma mudança de cultura para uma sociedade civil mais participativa nas discussões das políticas públicas. A população passou a cobrar mais veementemente o que deseja e, de certa forma, a ajudar a prefeitura a priorizar as políticas a serem implementadas. Em meio a isso, surgiu também a discussão de que esta não só deve assumir o papel de reivindicadora, como também a responsabilidade de fiscalizar o governo durante o processo de implementação de suas obras, como também sugere Fung. Dessa forma, foram mencionadas tentativas de estruturação de uma comissão fiscalizadora para as obras. Tanto o modelo de fiscalização por distrito como por obra. não tiveram sucesso significativo, em razão do excesso de trabalho que o Conselho da Cidadania chamou para si com o acúmulo de muitas responsabilidades, que deveria não só eleger, mas também analisar as avaliações feitas pelas comissões das obras da prefeitura.

É possível dizer, baseando-se em Fung, que o baixo nível de efetivação em termos de implementação dos resultados das discussões feitas pelo Conselho pode estar relacionado a essa falta de fiscalização da sociedade civil sobre as obras do governo. É complicado afirmar que é a única razão, afinal, a prefeitura trabalha dentro de limitações de orçamento e não tem como realizar tudo, por isso se priorizam ações. Contudo, mais da metade dos entrevistados relatou situações nas quais as obras não foram realizadas seguindo o devido padrão de qualidade ou ao menos terminadas. Além disso, outros poucos afirmaram que pressionaram o governo e com certo esforço conseguiram que essas falhas fossem corrigidas nas suas respectivas comunidades.

Desse modo, estes benefícios mencionados por Fung ainda precisam ser trabalhados não só pela prefeitura municipal em relação à accountability, mas também, e principalmente, pela sociedade belterrense, que é o principal agente estimulador disso e a maior beneficiária dos resultados efetivos.

6. Considerações finais e reflexões

Reforçando a importância de ouvir a população para a tomada de decisão como um caminho para a mudança, a solução desenvolvida com a construção do Conselho da Cidadania tem se mostrado uma boa escolha. Não apenas pelo prêmio recebido como Cidade Cidadã, mas é evidente a mudança que o instrumento agrega àqueles que nele participam, como relatado por diversas pessoas o grande aprendizado que adquirem ao conhecerem outras pessoas, seus diferentes pontos de vista, dificuldades e necessidades, permitindo o contato com realidades outras, abrindo portas para o conhecimento de outros modos de vida, ampliando sua visão de mundo.

Além disso, percebe-se que a participação em um órgão como este desperta a crença e a confiança em si mesmo, no poder de agir, de transformar e de contribuir, e acima de tudo, no potencial que, individualmente e juntos, possuem de contribuir com a superação de problemas e com a transformação daquela realidade. Este empoderamento é muito importante para a autoestima dos participantes, representando uma ferramenta também para contagiar outras pessoas a fim de terem esperança, de se mobilizarem e de lutarem por um futuro melhor. Somente com esta força será possível transformar a realidade. Dessa forma, é possível despertar o que há de melhor em cada ser, o respeito e o amor, a fé e a esperança de construir melhores condições de vida, contribuindo para o bem-estar de todos.

Por outro lado, o desenho institucional do Conselho em questão, conforme a análise apresentada na seção anterior, possui algumas falhas e oportunidades não exploradas que prejudicam seu desempenho e as perspectivas de sua perpetuidade. A comunicação apresenta-se como uma importante ferramenta para o sucesso do Conselho da Cidadania, por exemplo. É por meio desta que a mobilização poderá ser ampliada, que a população terá conhecimento desta grande oportunidade, saberá como participar e saberá seu papel, e poderá acompanhar a execução das propostas e os resultados alcançados. A comunicação é também essencial para o melhor alinhamento de objetivos e papéis, para a construção das propostas, políticas públicas e decisões a serem tomadas, além do relacionamento entre a população e autoridades públicas. Entretanto, atualmente não há qualquer meio oficial para divulgação das reuniões, propostas debatidas e resultados alcançados, muito menos para a mobilização e conscientização das oportunidades e importância da participação no Conselho.

Deve-se considerar também que não é apenas a comunicação que dificulta o acompanhamento da execução das decisões. O modelo planejado para organizar tal função foi prejudicado pela existência de apenas voluntários como membros do Conselho, sem recursos ou fundos financeiros para apoiar sua atuação. Desta forma, não há dinheiro, tempo e conhecimento técnico e de gestão suficientes para acompanhar, fiscalizar e averiguar o andamento do que foi planejado. Vale ressaltar que tal condição prejudica o funcionamento do Conselho de maneira geral.

Mesmo quando se obtêm um consenso que agrade às necessidades da população, o governo local tem grande dificuldade em executar o almejado em razão da ausência de profissionais capacitados, ainda mais em dadas especialidades técnicas, para realizar devido planejamento e articulação das ações e políticas. A precariedade do sistema de ensino da região prejudica também a formação dos participantes do Conselho da Cidadania, impactando na sua capacidade de tomar decisões conforme requerido. Como exemplo, pode-se citar a dificuldade de pensar mais a longo prazo e de forma mais sistêmica.

Essa discussão sobre o poder de avaliação da população caracteriza também uma briga política entre partidos que apoiam e valorizam a participação popular nas decisões políticas, e aqueles que acreditam que não se deva dar tamanha liberdade àqueles que não possuem o discernimento correto para determinado nível de decisão de âmbito do orçamento municipal, por exemplo. Estes últimos argumentam ainda que o consentimento com interesses da população, em certa medida, é apenas justificado pelo desejo de satisfazer a população a curto prazo, e mascarar atitudes desonestas, argumento este também utilizado contra quem prefere distanciar a população das decisões.

A diferença politica também abrange diferentes visões sobre a teoria de desenvolvimento aplicada no planejamento da cidade, sobre o nível de condições e facilidades de uma grande metrópole que devem ser incorporadas a um município como Belterra. Como exemplo pode-se citar a energia elétrica, fundamental para facilitar a comunicação por meio de aparelhos móveis e a própria conservação de alimentos. Por outro lado, permite acesso à transmissão de informações e realidades muito distantes do viável à população local, a exemplo de programas de televisão. Estes geram uma ambição por alcançar um estilo de vida incompatível com a realidade regional. Muitos jovens, inclusive, são estimulados a se mudarem para grandes centros urbanos em busca desse sonho de vida, mas acabam sendo marginalizados em razão da falta de capacitação.

O nível de desenvolvimento impacta nos meios para ativação da atividade econômica e geração de renda, os quais estão diretamente ligados à preservação do ecossistema animal e vegetal. Por outro lado, o quanto a sustentabilidade desses recursos deve se sobrepor ao direito desses cidadãos de ter acesso a melhores condições de vida também está em pauta.

Da mesma forma, uma melhor condição de vida, atrelada ao acesso a novas tecnologias, serviços e produtos, está diretamente ligada à mudança do estilo de vida da região, o qual muitas vezes não está de acordo com as respectivas condições. Como exemplo pode-se citar a preocupação de certos indígenas sobre a chegada de produtos industrializados. Apesar de trazerem novas opções e oportunidades nutricionais de grandes cidades, estes trazem consigo a necessidade de utilização de mais recursos, além da geração de resíduos, com os quais a região não está preparada para lidar. Da mesma forma, os conhecimentos culturais de cultivo e de relacionamento com a natureza ao redor são também afetados.

Por fim, percebe-se a necessidade de que as figuras públicas do município de Belterra a favor do funcionamento do Conselho da Cidadania, bem como dos participantes deste órgão, atentem para o aperfeiçoamento dos pontos mencionados anteriormente sobre a adequação de seu desenho institucional, e especialmente, para a ampliação e abrangência de sua atuação, de forma a não privilegiar uma parcela populacional, mas sim, atender a toda a região municipal que necessita de uma forma geral, de melhor infraestrutura, qualificação em aspectos da saúde, segurança e educação, de maneira a se respeitar os direitos de cada cidadão em relação às suas condições de vida.

Sugere-se, pois, a complementação do presente estudo com avaliações mais detalhadas e mensurações mais precisas do real impacto do Conselho da Cidadania, e das medidas tomadas por este, para o munícipio e sua população. Com isto, será possível avaliar a importância e impacto de cada aspecto do desenho institucional para que este possa ser melhor reformulado.

Dessa forma, espera-se que o caso do Conselho da Cidadania seja um exemplo de espaço participativo para inspirar a construção de outras ferramentas como esta em outras localidades, e que auxilie na reflexão sobre os níveis e características de desenvolvimento e de construção de políticas públicas em municípios com dificuldades semelhantes.

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Anexos

1- Roteiro de entrevistas
a. Anexo 1a – Roteiro de entrevista semi-estruturada com membros do CC
A pessoa e a cidade
1- Como é viver em Belterra? Sempre morou aqui?
2- O que o senhor faz aqui?
3- Idade
Perfil associativista
4- Conte um pouco sobre sua relação com o Conselho
5- Você representa(va) então qual instituição? Desde quando?
6- Faz parte de outros grupos ou associações?
7- Como foi a criação desses grupos? Eles existem desde quando?
8- Como foi que começou a participar?
Perfil do Conselho
9- Como foi a criação do conselho? Quem coordenou o processo? Tem lei de criação? Quando foi isso?
10- Quem faz parte do Conselho? Sempre foram essas organizações? Isso muda? O governo municipal faz parte?
11- Como é a escolha das organizações que fazem parte do Conselho?
12- Qual a relação do Conselho com as comunidades rurais? Há representantes das comunidades no Conselho? Como foram escolhidos?
13- Com que freqüência o Conselho se reúne? Quem articula/marca a reunião?
Pauta e discussões
14- Qual o papel do Conselho? O que o Conselho faz?
15- Quais os principais temas discutidos no Conselho? Quem propõe a pauta?
16- Tem algum outro tema que deveria ser discutido?
Decisão e encaminhamentos
17- Como são as reuniões? Todos falam? Alguém coordena a reunião?
18- Tomam decisões nas reuniões? Como é o processo de tomada de decisão? É votação? É consenso?
19- As decisões são divulgadas? Como?
20- Como é o encaminhamento dos resultados das discussões? Quais são os caminhos? Isso chega até o governo municipal? Como?
21- Tem alguma decisão do Conselho que foi implementada? Quem implementou?
22- Quais os maiores desafios para implementar as decisões tomadas no âmbito do Conselho?
Avaliações
23- Como o senhor percebe a atuação do Conselho?
24- Qual a relação do Conselho com o Plano Diretor? E hoje? Existe um papel de monitoramento?
24- Como o senhor entende o papel do conselheiro?
b. Anexo 1b – Roteiro de entrevista semi-estruturada com lideranças comunitárias e representantes de associações comunitárias
A pessoa e a cidade
1- Como é viver em Belterra? Sempre morou aqui?
2- O que o senhor faz aqui?
3- Idade
Perfil associativista
4- Aqui o senhor de algum grupo ou associação?
5- Como foi a criação desses grupos? Eles existem desde quando?
6- Como foi que começou a participar?
7- Há outros grupos ou associações na comunidade?
8- Esses grupos são formalizados?
9- Quem faz parte desses grupos? Qualquer morador pode participar?
10- Com que freqüência esses grupos se reúnem? Quem articula/marca a reunião?
11- Conte os principais assuntos discutidos nos grupos.
Relação com o Conselho e avaliações
12- Conte um pouco sobre sua relação com o Conselho: fez/faz parte? Quando?
13- Tem alguma relação entre a associação que faz parte e o Conselho?
14- Como o senhor percebe a atuação do Conselho? O que o senhor acha do Conselho?
15- Como vocês ficam sabendo do que acontece no Conselho?
16- Como o senhor entende o papel do conselheiro?

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