A fotografia como ferramenta da alfabetização visual
“A verdadeira viagem do descobrimento,não consiste em buscar novas paisagens, mas novos olhares” Marcel Proust
A idéia desta exposição é discutir a fotografia como mediadora para alfabetização visual, que pode ser definida como a habilidade de compreender e se expressar por meio de um sistema de representação visual. Os protagonistas são jovens de baixa renda, crianças em situação de rua, mulheres, negros, imigrantes não documentados, portadores de deficiência, líderes comunitários, portadores de HIV/AIDS, integrantes de ONGs, jovens privados de liberdade, sem-teto e professores da rede pública. A idéia é a de formar multiplicadores e, para tanto, unir artistas, acadêmicos e as comunidades, visando a transformação da sociedade como um todo, pois como disse o artista Joseph Beyus, “o indivíduo, por meio de uma atitude ética e estética, pode mudar o mundo”.
Os projetos buscam conter as vertentes prática e teórica. A prática iniciou-se em 1990, com comunidades de baixa renda. A acadêmica em 1996, com o mestrado em artes pela Universidade de Kent, Inglaterra, como bolsista do British Council e da VITAE, e teve continuidade no doutorado pela PUC/SP e como professor visitante na Universidade de Harvard, Graduate School of Education, no Project Zero em 2002.
Por que trabalhar com imagens? Conforme Ernest Gombrich “Vivemos na era visual. Somos bombardeados com imagens desde quando acordamos até quando vamos dormir”. Essas imagens surgem através de TV, jornais, outdoors, placas, propagandas, folhetos e outras mídias, e, como classificou René Huyghe “vivemos na Civilização da Imagem”. Nesta sociedade imagética é um direito do cidadão ser alfabetizado visualmente para construir uma sociedade democrática, porque grande parte das informações vem das imagens. É fundamental que o cidadão possa entender e perceber a influência e o poder desta “civilização”. Conforme diz William Mitchell, “as imagens exercem um enorme poder no mundo contemporâneo”.
A leitura crítica de imagens pode ser um recurso importante para a compreensão da realidade e de experiências vividas. O seu aspecto lúdico possibilita desenvolver a sensibilidade, a criatividade e a percepção dos participantes. Essa leitura apresenta-se como uma poderosa ferramenta para aquisição de conhecimento e de expressão da cidadania, contribuindo substancialmente na maneira que entendemos a nós mesmos, aos outros e ao mundo onde vivemos.
A composição desta exposição e deste catálogo propiciou uma oportunidade de re-examinar meu trabalho como educador. Penso que todas as minhas atividades como professor, curador, fotógrafo, fazem parte de uma só busca, pois acredito que a imagem tem a capacidade de unir de maneira efetiva e permanente, pesquisa acadêmica para formação de professores de forma a desenvolver a alfabetização visual, permitindo, assim, o encontro de caminhos construtivos para enfrentamento do contraste social no Brasil. Talvez esta seja uma das funções da imagem: fornecer instrumentos àqueles que sonham com um mundo mais justo, pacífico e democrático. João Kulcsár
Centro Universitário Senac |